FISL 15: Impressões, opiniões e discussões
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Após quase 1 mês, cá estou pra compartilhar minhas impressões a respeito do FISL 15, que aconteceu em Porto Alegre, RS, entre os dias 7 e 10 de Maio de 2014.
Antes de mais nada, gostaria de fazer um pequeno “jabá”. Acho que mereço, por conta do trabalho que tive pra fazer isso (já explico) dar certo! Estou falando da palestra do Diego Aranha, que foi um dos destaques dessa edição do evento. A palestra, entitulada Software Livre e Segurança Eleitoral (veja o vídeo dela aqui) é, na minha opinião, algo que todo cidadão brasileiro deveria assistir e refletir a respeito. Comecei a me envolver mais no assunto da urna eletrônica brasileira depois que assisti essa mesma palestra (proferida pelo próprio Diego), há mais de 1 ano atrás, na UNICAMP. Considero impossível não se sentir minimamente indignado com a falta de escrúpulos (e de competência!) daqueles que, teoricamente, estão zelando pela democracia no país.
Enfim, depois de assistir essa palestra pelo menos umas 3 vezes (sendo uma delas na edição do Software Freedom Day Campinas, que eu organizei em nome do LibrePlanet São Paulo), achei que devesse tentar “mexer os pauzinhos” e colocá-la na grade oficial do FISL. Só pra garantir, eu e o Diego também submetemos a mesma palestra pelo sistema normal de submissão. Mas no fim, depois de conversar com algumas pessoas “de dentro” (agradecimento especial ao Paulo Meirelles da UnB nesse ponto), consegui encaixar o Diego na grade de destaques do evento! Foi uma grande conquista, e tenho certeza de que quem viu a palestra saiu de lá com a pulga atrás da orelha…
Mas enfim, vamos aos fatos. Minha participação no FISL desse ano foi mais tímida do que no ano passado, mas após alguma reflexão, cheguei à conclusão de que ela também foi mais proveitosa. Apesar de ter submetido praticamente 8 propostas de palestras, cobrindo os mais diferentes níveis e assuntos, não tive nenhuma proposta aceita! Obviamente fiquei bastante chateado com isso, ainda mais depois de ver o nível de algumas palestras que foram aprovadas… Confesso que considerei não ir ao evento, já que, além de não ter tido nenhuma palestra aprovada (o que significava que eu não receberia nenhum patrocínio pra ir), também não ia poder rever muitos amigos que não puderam comparecer nessa edição (podem botar isso na conta da Copa).
Passada a fase de chorar as pitangas, decidi ir de qualquer maneira. O Alexandre Oliva havia me convidado para fazer parte de uma “mesa redonda” cujo objetivo era debater a suposta morte do movimento Software Livre no Brasil. Senti-me honrado com o convite, e como participo da causa há bastante tempo, tinha bastante coisa a dizer. Foi uma honra ter feito parte da mesa com o próprio Oliva, o Anahuac, o Fred, e o Panaggio. Tivemos 2 horas para falar nossas opiniões a respeito do tema, e abrir a discussão para o público presente no auditório. Infelizmente, acabou sendo muito pouco tempo para tanta coisa que tínhamos pra falar! Eu mesmo acabei dizendo muito pouco, e resolvi parar antes para deixar a platéia se manifestar, na esperança de que o microfone iria voltar às minhas mãos para que eu pudesse fazer as considerações finais. Ledo engano! Todos queriam um pedacinho do tempo, e acabou que ficou faltando muita coisa a ser dita, de ambos os lados (palestrantes e platéia). Aliás, se quiser ver o vídeo do debate, faça o download dele aqui.
Não é exagero dizer que esse debate explicitou um sentimento recorrente nos ativistas do movimento Software Livre. Há algum tempo vínhamos tendo essa “consciência coletiva” de que as coisas não estavam muito bem pro lado do Software Livre (ao contrário do Open Source, que vai de vento em popa). Eu mesmo já havia feito alguns posts a respeito do assunto, e do meu incômodo quando pedi para que o nome Software Livre não fosse utilizado indevidamente (post em inglês), e o Anahuac levantou esse ponto durante o debate também. Achei bastante sintomático isso. E depois que voltei do FISL comecei a pensar bastante a respeito desses (e outros) assuntos novamente, o que já gerou alguns posts por aqui.
Gostei, também, da maior parte das colocações que ouvi da platéia. Apesar de eu ter tido a impressão de que algumas pessoas não entenderam muito bem o que estava sendo discutido, considero que os contrapontos levantados por parte da platéia são dignos de serem pensados, mesmo que a pessoa que trouxe esses contrapontos não seja necessariamente uma ativista. Talvez eu prepare mais um post a respeito do que ouvi por lá…
Por último, já no final da palestra, não pude deixar de pedir o microfone pro Oliva e levantar um ponto que eu queria que tivesse tido mais atenção: precisamos hackear mais! O Software Livre, enquanto movimento social e político, precisa de pessoas que discutam e tragam à tona os problemas que nós, como sociedade, devemos resolver. No entanto, o Software Livre também é um movimento técnico, e como tal precisa de ferramentas que façam frente ao domínio proprietário. Hackers, precisamos de vocês :-).
Mas… mudando um pouco de assunto, eu também fui ao evento para divulgar, mais uma vez, o nosso grupo de Software Livre, chamado LibrePlanet São Paulo. Nesse ano, levamos duas propostas interessantes ao evento: contas grátis na nossa instância do GNU Social, e no nosso servidor Jabber.
O GNU Social, que antes era conhecido como StatusNet (e que era utilizado pelo site Identica, que depois migrou para um outro tipo de serviço), é como se fosse um “Twitter distribuído”, implementado com Software Livre. O ponto é que você consegue utilizar seu próprio servidor (se quiser), e consegue conversar com pessoas que estão usando GNU Social em outros servidores. Se quiser registrar sua conta na nossa instância do GNU Social, pode acessar a página de cadastro.
O Jabber (XMPP) é um “conhecido anônimo” de quase todos. É a tecnologia que o Google Talk, o Facebook Chat, o WhatsApp, e vários outros serviços proprietários utilizam. Nós, do LibrePlanet São Paulo, estamos oferecendo contas de graça no nosso servidor Jabber. Ainda não possuímos uma página de cadastro de usuários, então se você quiser uma conta, entre em contato comigo através do e-mail (ou deixe um comentário aqui). É importante dizer que o Jabber/XMPP também é um protocolo totalmente distribuído, e que você vai conseguir conversar com outras pessoas que estão utilizando Jabber em outros servidores! Infelizmente, você não vai poder falar com quem usa o Facebook Chat e o WhatsApp, porque essas empresas proíbem essa funcionalidade. O Google permitia isso para quem utilizava o Google Chat “normal”; se a pessoa já tiver migrado para o Hangout, ela também não vai conseguir falar com outros servidores Jabber. Mais um motivo pra largar esses “serviços” vampíricos, não acha? :-).
O saldo final foi de 5 contas Jabber criadas, e nenhuma conta GNU Social. Infelizmente, isso é absolutamente normal em qualquer tipo de evento; o FISL, apesar de ter “SL” no nome, é, em sua esmagadora maioria, composto por pessoas que às vezes não se importam tanto com a parte social.
Por último, gostaria de deixar registrado o excelente trabalho que o pessoal do LibrePlanet São Paulo e Espírito Santo fizeram durante o Encontro Comunitário dos grupos. Veja o vídeo do encontro aqui.
No final, fiquei feliz com o resultado do evento. O ponto alto, pra mim, certamente foi o debate. Acho que uma “mexida” no status quo é sempre bem vinda, e foi isso que tentamos fazer. Esse movimento acabou gerando atividade dos dois lados (Software Livre e Open Source), e também ajudou-nos a diferenciar melhor quem é quem nessa história toda. Agora, é esperar o próximo FISL pra ver o que saiu e o que ficou no lugar. Até lá!
Abraços!