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Sem Dúvida


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Com essa maré de notícias ruins que tá assolando o mundo, fica difícil saber o que dizer quando tento explicar, pra mim mesmo, o que anda acontecendo no Brasil. Não dá pra entender, não dá pra saber, mas mais do que isso: não dá pra acreditar.

Eu poderia falar sobre a burrice generalizada que está brotando nas pessoas, mas aí eu iria soar um pouco presunçoso, e isso não é uma coisa boa, né? Eu também poderia contar um pouco sobre essa raiva silenciosa que eu venho sentindo, essa vontade de que esse monte de idiotas se ferrem de "verde e amarelo", literalmente, e que sejam eles os perseguidos, e que sejam eles os que sofram na pele aquilo que desejam pros outros. Mas talvez meus ilustres leitores não entendam, e é possível que alguém diga, com razão, que eu não deveria pensar assim.

Por esses motivos, eu resolvi falar de outra coisa. Vou falar sobre a certeza. Nós vivemos num período que a certeza está à solta, e todos já têm as suas. A certeza é tipo o tamagotchi dos anos 90: se você não tem, você tá por fora! Ter certeza é ter estilo.

Às vezes eu me pego boquiaberto com o tanto de certeza que as pessoas possuem! Por exemplo, no caso da política brasileira, existem certezas que são quase dogmáticas. Ou você tem certeza que o Lula de fato é corrupto e roubou tudo aquilo que dizem, ou você tem certeza que o Lula não é corrupto e está sendo vítima de um golpe político-midiático-jurídico-judaico-papal. Não tem certeza sobre o assunto? Não sabe, ou não se sente seguro o suficiente pra opinar? Então vai pra masmorra, e receba pedradas dos dois lados!

Como é que faz pra viver nesse mundo? Como é que faz pra se ter tanta certeza sobre tantas coisas? Sinto que faltei a essa aula no colégio, enquanto todo mundo foi e se certificou de ter certeza.

É. Parece que, sem dúvida, eu acho que certamente não sei de nada.


A falta de uns Quaresmas


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É preciso ter paciência pra viver nesse país. Vejo duas aglomerações que se juntam, misturadas ou não, nesse mar de reclamações.

A primeira, composta por pessoas que reclamam do Brasil, e querem sair do país de qualquer modo. Vislumbram-se diante de qualquer estrangeirismo, viajam para o exterior e voltam querendo viver lá (dizendo que querem aprender uma nova cultura, mas na verdade querendo fugir das terras tupiniquins), espumam de raiva quando falam dos problemas daqui, e, às vezes, sentenciam: esse país não tem jeito.

A segunda aglomeração, que à primeira vista parece se importar com a nação, é a dos que defendem algum partido político. Com os desdobramentos do episódio do mensalão, pipocam pessoas desse tipo. Pode parecer que elas estão interessadas no bem da população, ao concordar/discordar da condenação e prisão dos réus. Ledo engano.

Com o episódio do mensalão, e o desfecho que está acontecendo, é difícil não sentir-se enojado. Mas o motivo do nojo varia... Alguns, com o bico largo, enojam-se comemorando as prisões, independente da legalidade das mesmas, como se fosse um alívio ver que os presos não tiveram um tratamento muito digno. Outros, vermelhos (não só) de raiva, enojam-se com a falcatrua que supostamente está acontecendo desde o início do escândalo, e mais ainda com a prisão injusta (na visão dos mesmos) dos acusados pela corrupção. Já eu...

Eu me enojo de ver os nojos. É meio contraditório, mas eu me sinto no meio de um lamaçal, com porcos atirando sujeira de todos os lados. Às vezes, confesso, fica difícil distinguir quem é quem. E eu já vi cada tipo de sujeira...

De um lado, os petistas e simpatizantes agem, em sua maioria, como se os presos fossem santos sendo apedrejados em praça pública. Já vi pessoas dizendo que o que o PT fez não foi tão grave, ou que tudo não passa de mentira, ou que o PT apenas usou dinheiro privado em campanha (caixa 2, proibido por lei), e que isso não é muita coisa se comparado com o que o PSDB fez (mesmo sem saber dizer direito o que é que eles fizeram).

De outro lado, os tucanos e simpatizantes também agem, em sua maioria, de maneira completamente irracional. Justificam que o PSDB não tem corruptos, e que se tivesse, eles seriam expulsos. Dizem que o PT é o câncer que precisa ser extinto, e não se interessam em olhar pra coisas boas que eles fizeram, afinal, "se é do PT não pode ser bom". Usam o mensalão como argumento para qualquer discussão, não importando se estão certos ou não. E ainda têm coragem de dizer que, mesmo que o julgamento tenha sido uma farsa, os condenados ainda mereceriam estar presos. Querem justiça, mas do jeito deles.

Eu, que não sou fã de futebol, e abomino qualquer tipo de torcedor (seja desse esporte ou não), sinto-me dentro de um jogo, e não de um país. As torcidas não querem ver um jogo bonito, elas querem sangue. Todos querem que seu time ganhe, mesmo que pra isso seja necessário uma ajuda do árbitro. E nada mais importa caso meu time perca. Fui roubado, o técnico é uma porcaria, o campo estava ruim, tudo aconteceu pra que meu time fosse prejudicado.

Não se deixe enganar: essas pessoas, esses partidários, eles não estão preocupados com o bem do país. Eles preocupam-se com o bem do partido, e apenas isso. Se o partido faz o bem para o país, melhor. Se ele faz algo errado, bem, paciência, nem tudo é perfeito... Isso me lembra das manifestações que ocorreram em Junho/Julho. Na época, a maioria dos que saíram às ruas não queria bandeiras e nem vínculo com partidos. E, enquanto os petistas começaram a taxar isso de "fascismo", os tucanos se aproveitaram da situação e, tacitamente, infiltraram pessoas nos conglomerados. Na época, não estava claro pra mim quem estava certo ou errado, mas hoje, ao olhar pra trás, vejo que os dois partidos, mais uma vez, só estavam olhando pro próprio umbigo! Extremamente triste...

E, como se não bastasse, vejo-me cercado por pessoas que não valorizam seu próprio país. Óbvio que, para mim, esse tipo de pessoa tem muito em comum com o tipo que descrevi acima, e que vou chamar de "partidário". A pessoa que quer sair do país, por fora, pode parecer muito diferente do partidário. Ela, muitas vezes, nem partido político tem. Não acredita em muita coisa no Brasil, então prefere não se misturar. Além disso, em geral (mas nem sempre), ela tende a ficar alheia aos acontecimentos políticos, e só opina quando algo grande acontece, criticando indiscriminadamente qualquer político que esteja envolvido (mesmo sem provas). Uma outra característica é que, como atualmente virou moda ser conservador, essa pessoa tende a posicionar-se sempre contra a esquerda, porque, afinal, "comunismo é ruim e ponto". Mas não é de se estranhar que ela ache isso, afinal, estudar história não é muito o seu forte...

Essa pessoa não conhece muito a história do Brasil. Não aprecia coisas daqui, não ouve música brasileira, não vê ou sente o jeito que o brasileiro tem de lidar com problemas, e não se preocupa em conhecer detalhes da nossa história e, acima de tudo, compara pejorativamente qualquer coisa brasileira. Essa pessoa quer mudar do Brasil, e não se importa em mudar o Brasil.