Ainda não sei se estou preparado pra enfrentar a segunda parte dessa
“série”, mas também não adianta fugir… O que eu sei é que essas
reflexões podem não ser condizentes com a realidade (ou com a sua
realidade), e que talvez eu esteja exagerando (ou aliviando) nas minhas
observações, mas em todo caso eu espero que seja possível para você,
querido leitor, traçar alguns paralelos com o seu modo de ver o mundo,
e, quem sabe, mudar algo na sua região.
Preguiça
Este ponto relaciona-se mutuamente com os outros dois pontos (que também
relacionam-se mutuamente entre si). É claro, tudo está conectado nesse
mundo, até mesmo (e principalmente!) os motivos que levam alguém a se
desconectar de alguns valores morais e éticos.
Eu vejo pessoas preguiçosas o tempo todo. Às vezes, sou uma delas (por
mais que tente me afastar desse comportamento). Mas creio que existe uma
diferença entre alguém inerentemente preguiçoso, e alguém que se deixa
levar pela tentação da preguiça por conta de algum outro fator. A minha
reclamação, aqui, é com o primeiro tipo de pessoas.
O “teste” pra saber se você se encaixa nesse grupo é: quando você se
depara com algum problema difícil de ser resolvido, qual seu modus
operandi? Buscar soluções, ou desistir? Tentar você mesmo, ou pedir pra
alguém? Aprender com seus erros, ou repetí-los ad eternum? Se você não
quis nem pensar sobre esse teste, então acho a resposta é óbvia…
Mas o que isso tem a ver com ativismo? Tudo. Ser ativista é, por
definição, ter que enfrentar situações difíceis e desanimadoras,
platéias apáticas e desconfiadas, pessoas descrentes e alienadas. E isso
tudo é absurdamente frustrante, principalmente quando você acredita
naquilo que está falando, e sabe que as pessoas que estão ouvindo
precisam entender também! Afinal, como eu falei em outro post, a
privacidade (mas não só ela!) é um bem coletivo. A manutenção dela
depende da compreensão da comunidade sendo espionada.
Em outras palavras, as empresas, entidades e governos que estão lutando
para que você tenha cada vez menos direitos não dormem no ponto. Não vai
ser muito legal se nós dormirmos…
Só que esse ponto não se aplica somente aos ativistas em si. Obviamente,
encontramos (muitos!) preguiçosos (e preguiçosas) do outro lado, na
platéia. É sempre bom (e necessário) assumir que as pessoas pra quem
você está falando são ignorantes naquele assunto, e portanto precisam
ser instruídas minimamente para que possam tomar decisões maduras e
inteligentes. No entanto, mesmo depois de serem alertadas sobre
vários fatos e consequências dos seus atos, as pessoas ainda assim
preferem continuar na ignorância!! Existem vários nomes pra essa
“teimosia”, mas eu costumo achar que um dos fatores que contribui pra
isso é a preguiça.
Preguiça em levantar da cadeira e procurar soluções que respeitem você e
sua comunidade. Preguiça em continuar pensando (ou seja, “sempre
alerta”) sobre quais os riscos você está efetivamente correndo quando
usa aquela “rede social”. Preguiça em mudar os hábitos. Preguiça em
lutar por seus direitos virtuais. Enfim, preguiça.
Preconceito
Esse é um dos pontos mais problemáticos. O preconceito está enraizado
nas pessoas, sem exceção. E o preconceito contra ativistas, de qualquer
tipo, é evidente.
Ser ativista não é somente acreditar em algo. Ser ativista é
principalmente saber de algo, e querer levar essa sabedoria para as
pessoas. Obviamente, existem vários tipos de ativismo, mas quando olho
pro que eu faço, eu me vejo mais como alguém que sente ser sua obrigação
ensinar as pessoas sobre algo que é desconhecido da maioria. Apesar de
realmente esperar que as pessoas acreditem nos valores que eu tento
passar (e quem não espera?), acredito que meu objetivo principal seja o
de “habilitar” a sociedade a tomar decisões conscientes sobre os
assuntos que tento “ensinar”.
Algumas pessoas têm medo ou vergonha de me falar que usam Facebook,
Twitter, ou algum software não-livre. Mas eu noto que, na maior parte
dos casos, o medo delas decorre do fato de elas saberem que eu não
“gosto” de nenhum desses itens, e não do fato de elas saberem por
que eu não gosto deles. E nesse caso, eu não sinto raiva ou decepção
pela pessoa com quem estou conversando, mas sim uma necessidade de
realmente explicar o motivo de eu não concordar com a utilização
desses programas! Sei que se eu explicar, na verdade eu estarei dando
ferramentas pra que a pessoa consiga, ela mesma, decidir se quer
continuar usando-os. Essa é minha tarefa, no final das contas. Permitir
que o usuário de tecnologia consiga, de forma consciente e ética,
escolher o que quer e o que não quer. Mas aí entra o preconceito…
Quando começo a falar, é inevitável usar expressões como “liberdade”,
“respeito”, “ética”, “comunidade”, “privacidade”, “questões sociais”,
etc. Elas são o cimento pra que eu possa construir meus argumentos, e
não creio que palavras ou expressões por si só possam definir um liberal
de um conservador, por exemplo. No entanto, o que mais vejo são pessoas
que confundem ativistas de Software Livre com comunistas ou socialistas.
E como hoje a moda é o conservadorismo, às vezes as pessoas ignoram tudo
aquilo que falamos por conta desse preconceito idiota.
Meu objetivo não é discutir sobre se é bom ou ruim ser
socialista/comunista (apesar de eu definitivamente não ser
“conservador”, e achar esse preconceito absurdo). Mas o que deve ficar
claro é que o Software Livre, apesar de ser um movimento político, não
é um movimento partidário. Defendemos valores bem definidos, que podem
ou não ter a ver com idéias comunistas/socialistas, mas que não advogam
a favor desse movimento político. Também é importante mencionar que, por
ser um movimento social, é natural que muitas idéias e preceitos
defendidos pelos ativistas de Software Livre sejam simpáticos à causa
socialista/comunista. Mas isso obviamente não faz com que Stallman seja
o novo Stalin (apesar da semelhança dos sobrenomes).
Enfim, o meu pedido para a comunidade em geral é: ouçam a mensagem,
independente do interlocutor, e pensem a respeito, independente da sua
orientação político-partidária. Aquilo pelo qual lutamos independe de
partido, religião, time de futebol, nacionalidade. Depende simplesmente
de seres humanos, de uma comunidade que não tem fronteiras, não tem uma
única cultura, mas que merece mais respeito. Só que, infelizmente, vamos
ter que exigir isso.
You may not agree with me on everything I write here, and I am honestly
expecting some opposition, but I would like to make it crystal clear
that my purpose is to raise awareness for the most important “feature”
an organization should have: coherence.
The shock
I first learned about the Twitter account on IRC. I was hanging around
in the #fsf channel on Freenode, when someone mentioned that “…
something has just been posted on FSF’s Twitter!” (yes, it was a happy
announcement, not a complaint). I thought it was a joke, but before
laughing I decided to confirm. And to my deepest sorrow, I was wrong.
The Free Software Foundation has a Twitter account. The implications
of this are mostly bad not only for the Foundation itself, but also for
us, Free Software users and advocates.
Twitter uses Free Software to run its services. So does Facebook, and I
would even bet that Microsoft runs some GNU/Linux machines serving
intranet pages… But the thing is not about what a web service uses. It
is about endorsement. And I will explain.
Free ads, anyone?
I remember having this crazy thought some years ago, when I saw some
small company in Brazil putting the Facebook logo in their product’s
box. What surprised me was that the Facebook logo was actually bigger
than the company’s logo! What the heck?!?! This is “Marketing 101”: you
are drawing attention to Facebook, not to your company who actually
made the product. And from that moment on, every time I see Coca Cola
putting a “Find us on http://facebook.com/cocacola” (don’t know if the
URL is valid, it’s just an example) I have this strange feeling of how
an internet company can twist the rules of marketing and get free ads
everywhere…
My point is simple: when a company uses a web service, it is endorsing
the use of this same web service, even if in an indirect way. And the
same applies to organizations, or foundations, for that matter. So the
question I had in my mind when I saw FSF’s Twitter account was: do we
really want to endorse Twitter? So I sent them an e-mail…
Talking to the FSF - First message
I have exchanged some interesting messages with Kyra, FSF’s Campaign
Organizer, and with John Sullivan, FSF’s Executive Director. I will not
post the messages here because I don’t have their permission to do so,
but I will try to summarize what we discussed, and the outcomings.
They explicitly say that Twitter uses nonfree JavaScript, and suggest
that the reader use a free client to access it. Yet, they still close
their eyes to the fact that a big part of the Twitter
community
use it through the browser, or through some proprietary application.
They also acknowledge that Twitter accounts have privacy issues. This is
obvious for anyone interested in privacy, and the FSF even provides a
link to an interesting story about subpoenas during the Occupy Wall
Street movement.
Nevertheless, the FSF still thinks it’s OK to have a Twitter account,
because it uses Twitter via a bridge which connects FSF’s StatusNet
instance to Twitter. Therefore, in their
vision, they are not really using Twitter (at least, they are not using
the proprietary JavaScript), and well, let the bridge do its job…
This is nonsense. Again: when a foundation uses a web service, it is
endorsing it, even if indirectly! And that was the main argument I have
used when I wrote to them. Let’s see how they replied…
FSF answers
The answer I’ve got to my first message was not very good (very weak
arguments), so I won’t even bother talking about it here. I had to send
another message to make it clear that I was interested in real answers.
After the second reply, it became clear to me that the main point of the
FSF is to reach as many people as they can, and pass along the message
of software user freedom. I have the impression that it doesn’t really
matter the means they will use for that, as long as it is not Facebook
(more on that latter). So if it takes using a web service that
disrespects privacy and uses nonfree Javascript, so be it.
It also seems to me that the FSF believes in an illusion created by
themselves. In some messages, they said that they would try to do a
harder job at letting people know that using Twitter is not the
solution, but part of the problem (the irony is that they would do that
using Twitter). However, sometimes I look at FSF’s Twitter account,
and so far nothing has been posted about this topic. Regular people
just don’t know that there are alternatives to Twitter.
I will take the liberty to tell a little story now. I told the same
story to them, to no avail. Let’s imagine the following scenario: John
has just heard about Free Software and is beginning to study about it.
He does not have a Twitter account, but one of the first things he finds
when he looks for Free Software on the web is FSF’s Twitter. So, he
thinks: “Hey, I would like to receive news about Free Software, and it’s
just a Twitter account away! Neat!”. Then, he creates a Twitter account
and starts following FSF there.
Can you imagine this happening in the real world? I definitely can.
The FSF is also mistaken when they think that they should go to Twitter
in order to reach people. I wrote them, and I will say it again here,
that I think we should create ways to reach those users “indirectly”
(which, as it turns out, would be more direct!), trying to promote
events, conferences, talks, face-to-face gatherings, etc. The
LibrePlanet project, for example, is a great way of doing this job
through local communities, and the FSF should pay a lot more attention
to it in my opinion! These are “offline” alternatives, and I confess I
think we should discuss the “online” ones with extra care, because we
are in such a sad situation regarding the Internet now that I don’t even
know where to start…
And last, but definitely not least, the FSF is being incoherent.
When it says that “it is OK to use Twitter through a bridge in a
StatusNet instance”, then it should also be coherent and do the same
thing for Facebook. One can use Facebook through bridges connecting
privacy-friendly services such as
Diaspora and
Friendica
(the fact that Diaspora itself has a Facebook account for the project is
a topic I won’t even start to discuss). And through those bridges, the
FSF will be able to reach much more people than through Twitter.
I am not, in any way, comparing Twitter and Facebook. I am very much
aware that Facebook has its own set of problems, which are bigger and
worse than Twitter’s (in the most part). But last time I checked, we
were not trying to find the best between both. They are both bad in
their own ways, and the FSF should not be using either of them!
Conclusion
My conversation with the FSF ended after a few more messages. It was
clear to me that they would not change anything (despite their promises
to raise awareness to alternatives to Twitter, as I said above), and I
don’t believe in infinite discussions about some topic, so I decided to
step back. Now, this post is the only thing I can do to try to let
people know and think about this subject. It may seem a small problem to
solve, and I know that the Free Software community must be together in
order to promote the ideas we share and appreciate, but that is
precisely why I am writing this.
The Free Software movement was founded on top of ideas and coherence. In
order to be successful, we must remain coherent to what we believe. This
is not an option, there is no alternative. If we don’t defend our own
beliefs, no one will.
Nesse último fim de semana, durante os dias 20 e 21 de Setembro
(sexta-feira e sábado, respectivamente), ocorreram dois eventos sobre
Software Livre na UNICAMP. Um deles, o
Upstream, foi um “evento teste” que ajudei a
organizar junto com o Cascardo e o Leonardo
Garcia, ambos do LTC/IBM. O outro, o Software Freedom
Day
(SFD), eu organizei em nome do LibrePlanet São
Paulo. Durante os dois eventos (e
principalmente durante o SFD) eu fiquei pensando e refletindo bastante
sobre vários assuntos relacionados (ou não) com o Software Livre.
Resolvi, então, aproveitar a oportunidade e escrever um pouco sobre
essas opiniões.
Antes, um breve relato dos dois eventos. Gostei parcialmente do
resultado que obtivemos com o Upstream. Acho que a qualidade dos
palestrantes foi ótima, e as discussões tiveram um nível muito bom. No
entanto, os workshops deixaram a desejar. Pelo pouco que pensei a
respeito, cheguei à conclusão de que faltou organização para definirmos
os assuntos que iriam ser abordados, e principalmente o melhor modo de
abordá-los. Assumo minha parcela de culpa nisso, afinal eu tentei ajudar
na organização do workshop de toolchain e ele não saiu do modo como
esperávamos. Problemas na infra-estrutura do local também atrapalharam
no resultado final. Mas, de modo geral, e levando em conta que essa foi
a primeira edição do evento, acho que conseguimos nos sair razoavelmente
bem. Certamente já temos muitas coisas pra pensar e melhorar para a
próxima edição!
Já sobre o SFD, apesar de várias pessoas muito boas terem participado do
evento, a minha impressão inicial (e forte) foi a de que fazer a
sociedade se interessar (ou ao menos ouvir, se bem que os dois conceitos
são intrinsecamente ligados) por assuntos que são de suma importância
para a manutenção (ou, no caso, a restauração) de um Estado que a
respeite é mais difícil do que eu pensava. E essa é também a primeira
reflexão do post.
Indignação x Ignorância
Há um conflito muito grande acontecendo com as pessoas. Provavelmente
ele não é “de hoje”, mas de qualquer modo ele existe e precisa ser
resolvido. O conflito, do modo que vejo, pode ser resumido da seguinte
forma: “até que ponto eu quero sentir indignação sobre um assunto, de
modo que eu não precise necessariamente tomar alguma atitude sobre
ele?”. Ou seja, a pessoa opta voluntariamente por permanecer na
ignorância parcial, para que ela não se sinta obrigada a tomar uma
posição sobre determinado problema que a atinge.
Tomemos o exemplo do Facebook. Alguém que tenha uma conta lá (i.e.,
“quase todo mundo”) prefere se manter na ignorância sobre os termos de
serviço e privacidade que o site possui. Não estou entrando no mérito de
operações clandestinas de espionagem; estou falando sobre os textos
disponíveis no site do Facebook e que explicam (talvez não de maneira
muito clara, mas isso já é outro problema) o que o site faz e não faz a
respeito dos seus dados. É uma opção. É mais fácil apenas usar o site,
compartilhar imagens engraçadas com seus mil “amigos”, e não olhar para
uma questão que deveria ser muito mais importante do que qualquer “like”
que possa ser dado.
Não sou sociólogo e estou longe de poder dar opiniões acadêmicas sobre
esse assunto, mas tenho a impressão de que o que acontece é um “retardo
social” na maioria dos cidadãos deste planeta. Não deixa de ser um
paradoxo o fato de que esse comportamento é exacerbado através de uma
“rede social”, que se traveste de facilitadora de comunicações entre
indivíduos para poder exercer a derradeira função de uma empresa: ganhar
dinheiro. É importante frisar que não sou contra “ganhar dinheiro”, mas
sou contra vários meios que são usados pra atingir esse objetivo.
No final, o produto somos nós, ou nossa privacidade. E quando eu digo
“nós” ao invés de “eles”, é porque eu fiz uma outra reflexão…
Privacidade é um “bem” coletivo
Pode parecer paradoxal à primeira vista, mas pare e pense um pouco. A
privacidade é sim um direito do indivíduo, mas quando você opta por não
tê-la, você está fazendo essa opção em nome de todas as pessoas que se
comunicam com você. Afinal, se você não se importa se alguém está lendo
suas mensagens, então qualquer tipo de comunicação que chega até você
pode e vai ser lida. E se essa comunicação partir de alguém que preza
pela própria privacidade, não vai fazer diferença alguma: a mensagem
será lida de qualquer jeito, porque você escolheu isso.
Estou acostumado a ouvir pessoas dizerem que elas não são tão
importantes a ponto de despertarem interesse em algum governo para que
ele queira espioná-las. “Portanto”, dizem as pessoas, “não preciso me
preocupar”. Bem, acho que esse argumento não invalida de maneira alguma
o fato de que proteger a própria privacidade é importante. Não interessa
o quão público alguém é; se ele não preza pela sua privacidade, ele está
abrindo mão de algo que afeta direta ou indiretamente várias pessoas.
O meu ponto aqui é simples. Faça a sua parte e proteja a sua
privacidade. Ninguém vai fazer isso por você, mas todos precisam e podem
fazer suas respectivas partes. É um trabalho em conjunto, mas que
depende da cooperação de todos. Se alguém perto de você não se importar,
você provavelmente vai ser prejudicado.
Eles escrevem em paredes. Mas são digitais, dentro de muros ainda mais
altos, controlados por uma ou mais empresas, tendo a ilusão de ótica de
estarem se organizando por um bem maior, quando na verdade não passam de
fantoches. Seja bem vindo ao planeta Terra, ano de 2013, século XXI. Vou
falar um pouco sobre o que está acontecendo nesta realidade em que,
fortuitamente ou não, estou inserido – mesmo sem participar.
Este post não pretende ser nada além de um post. Não vai ter links,
referências, nem nada. É só uma descarga mental.
Eric Hobsbawm provavelmente ficaria em dúvida se decidisse lançar mais
um dos seus inestimáveis livros sobre Eras, que falasse sobre esse
período que a humanidade está vivendo desde idos da década de 80 ou 90.
A dúvida, superficialmente, seria simples: uma palavra que definisse,
talvez não de modo unívoco mas ainda assim de maneira contundente, a
dita Era. No entanto, se analisássemos a questão de modo um pouco mais
profundo, veríamos que as opções para a tal “palavra” seriam muitas, e
muito ruins.
Hobsbawm não está mais entre nós. Mas isso não deixa a dúvida menos
incômoda. Vivemos várias eras em uma só, a da mediocridade (que foi a
palavra escolhida como título do post, mas apenas porque foi a primeira
que me veio à mente), a era do egoísmo e do individualismo, a era do
descaso, a era da burrice coletiva, a era da falta de compromisso, da
falta de interesse, da falta de amor, da manipulação, da vontade de ser
manipulado.
Recentemente, no Brasil, estamos vendo manifestações populares pipocando
a torto e a direito. Pessoas diversificadas dentro de uma mesma classe
média saem às ruas com bandeiras, hinos e muito partidarismo disfarçado.
As reivindicações são muitas, de esdrúxulas a absurdas, passando pelo
generalismo e falta de argumentos. O que querem esses caras pintadas,
esses brasileiríssimos filhos com máscara hollywoodiana gritando frases
de propagandas de televisão? Essas pessoas instruídas a colocarem
expressões em hashtags em cartolinas? Esses cidadãos exemplares e
sociais nas redes?
Acordar, acordar mesmo, é uma expressão muito forte. Há que se tomar
cuidado com o orgulho cego que nos lança luzes fortíssimas na cara a fim
de nos fazer acreditar que daqui pra frente, tudo vai ser diferente. E
essa falsa certeza absolutamente irrefutável, que é cada vez maior
quanto mais nos enfiamos nesses meios de comunicação dessa era em que
vivemos, é perigosa como qualquer outro dogma inquestionável.
De um lado, já sabíamos há muito tempo que um governo ditatorial como o
dos Estados Unidos espiava e ainda espia tudo o que lhe convém. Já
sabíamos, mas mesmo assim só vejo pessoas surpresas com essa cortina de
fumaça (sim, existe um motivo maior pra essa história toda vir à tona)
jogada sobre nós. Parece que precisavam de um nome, e PRISM caiu bem,
lembra um pouco aqueles mega computadores de livros de ficção
científica, medonhas máquinas que só sabem usar números pra matar. Então
agora, já que temos um bom nome, todos aqueles que antes tinham se
esquecido da espionagem agora dizem que “deixou de ser teoria (da
conspiração)”. Deixou? Já foi? Ou era você que não queria ver? Que se
esquecia, porque convinha?
De outro, temos os rueiros, manifestantes que, imbuídos de um espírito
que quer lutar por mais justiça e, consequentemente, liberdade, abusam
de um Facebook (ou “face”, praqueles que possuem a síndrome de
Estocolmo) para organizarem coisas, para combinarem festas, para
encontrarem parceiros, para viverem (ou terem essa ilusão). Fantoches,
que se colam nas mãos de uma empresa, que não querem sair, criam
dependência e subserviência, e assim acham que se tornam mais
brasileiros.
No centro, o nada. O vazio. A coisa-nenhuma, amiga inseparável e
confidente desses tempos que vivemos. Vácuo e zero se fundem num
emaranhado de matéria e anti-matéria. Nenhuma energia se cria, toda
energia é consumida e transformada nessa roda-viva teatral que nos leva
de volta ao começo do fim. Todos os posts são perdidos, todos os likes
são pedidos, todos na rua porque hoje é mais um dia como outro qualquer
e diferente de tudo o que já foi.
Quando penso no que éramos e no que nos tornamos, choro por todos os
motivos conhecidos e que ainda hei de conhecer. Estamos na descida, e eu
ainda não vejo o fundo do vale.
Estava devendo este post há 1 semana pro meu amigo Leonardo Vaz!
Desculpaê, Leo :-).
Vou tentar fazer um (breve?) relato sobre o Fedora Activity
Day (ou simplesmente FAD), que aconteceu em São Paulo no dia 1
de Junho de 2013, mais conhecido como sábado retrasado :-). Se quiser
ver a página de organização do evento (em inglês), clique neste link
aqui.
Chegada em Sampa
Bem, como sou um ex-embaixador do Fedora novato, inexperiente, e que não
faz nada da vida (ao contrário de vários ex-colegas que participam há
anos como embaixadores contribuindo solidamente para o bem comum e sem
deixar a peteca cair), eu resolvi levar os DVDs do Fedora que estavam
comigo para que o Leo e o Itamar (e quem mais estivesse por lá!)
pudessem se encarregar de redistribuí-los antes que eles perdessem a
“validade”. Saí cedo de Campinas, e com uma São Paulo sem trânsito nem
problemas, consegui chegar no escritório da Red Hat às 9h e pouco.
Conheci (e reconheci!) algumas pessoas por lá, entre colegas de trabalho
da empresa, embaixadores/contribuidores do Fedora, e entusiastas que
estavam lá pra conhecer melhor e ver qual era a do evento. Certamente
foi uma tarde/noite proveitosa em termos de contatos pessoais!
Palestras
Depois de um atraso no início do evento, o Leo começou apresentando uma
palestra sobre o projeto Fedora (e seus sub-projetos, como o de
embaixadores, por exemplo). Mesmo com boa parte (senão todos!) dos
presentes já fazendo parte do projeto de algum jeito, ainda assim a
palestra foi um momento legal pra que algumas discussões e reflexões
acontecessem. Considero que a maior parte da “nata” da comunidade estava
naquela sala (com óbvias exceções como o Fábio Olivé, o Amador Pahim, e
outras pessoas cujos nomes não vou ficar citando porque estou com
preguiça de pensar em todos!). Portanto, acho que o plano do Leo (que é
o de revitalizar a comunidade Fedora no Brasil, principalmente a de
embaixadores) começou com os dois pés direitos (se é que isso é
possível!).
A idéia inicial era de que cada palestra durasse 1 hora, mas é claro que
com tanto assunto pra tratar a palestra do Leo durou muito mais que
isso! No fim das contas, quando a palestra terminou já era hora do
almoço :-). Como não poderia deixar de ser, o papo continou na cozinha,
e foi lá que pude conhecer melhor o pessoal que estava presente. Foi bem
legal :-).
Bem, com a bateria carregada, era hora do segundo ciclo de palestras! O
Leo pediu pra que eu apresentasse um pouco da minha experiência com o
GDB, tanto na parte de lidar com a
comunidade upstream, quanto na hora de focar no desenvolvimento de
funcionalidades para o Fedora (ou para o Red Hat Enterprise
(GNU/)Linux). Eu não tinha preparado nenhum slide, e fui com a cara (de
pau) e a coragem tentar bater um papo com a galera ;-). Aqui está uma
foto na hora da palestra (reparem na pose, no garbo e na elegância do
palestrante):
Acho que consegui passar uma idéia de como é o meu dia-a-dia trabalhando
com o GDB e navegando entre os mares upstream e empresarial. Algumas
pessoas fizeram algumas perguntas (o Maurício Teixeira inclusive fez
perguntas técnicas!), e felizmente minha palestra durou bem menos do que
a do Leo! Eu certamente não tinha tanto assunto pra tratar :-P.
A última atividade do dia foi um hands-on que o Itamar fez sobre
empacotamento RPM. Foi legal, e acho que deu pro pessoal ter uma noção
de que empacotar pro Fedora não é um bicho de sete cabeças. Inclusive,
se você estiver interessado em saber mais, sugiro que dê uma olhada na
página wiki que ensina o básico
disso, e
não se sinta envergonhado de enviar suas dúvidas pras listas de
desenvolvimento do Fedora!
Após esse how-to ao vivo, e levando em conta o horário avançado (mais
de 19h) e o cansaço do pessoal, decidimos finalizar o evento. Na
verdade, ainda ficamos discutindo bastante sobre vários pontos
importantes da comunidade, os problemas vivenciados (sim, existem
problemas, a não ser que você viva num mundo encantado ou não se envolva
o suficiente pra notá-los, mas aí é só pedir pra alguém traduzir o que
está acontecendo e talvez você entenda), e as possíveis soluções. Acabei
saindo de Sampa quase 20h30min, mas achei que valeu muito a pena ter
ido!
Conclusões
A conclusão pessoal é que eu estava mesmo precisando ir a eventos e
conhecer pessoas novas! Acho isso muito legal, é um combustível pra
fazer mais coisas e ter mais idéias.
A conclusão na parte da comunidade é a de que o Leo vai conseguindo aos
poucos mudar a mentalidade do Fedora Brasil. Não me arrependo de ter
dado um tempo no sub-projeto de embaixadores, e estou achando muito
legal ver as ações do Leo & cia. para mudar as coisas. Têm meu total
apoio!
Agradecimentos
Esse evento certamente não teria acontecido sem o incansável Leonardo
Vaz. Ele merece todos os agradecimentos e toda a admiração da comunidade
(inter)nacional do Fedora por isso, sem dúvida. Se você estiver lendo
este post, tiver alguma relação com o Fedora, e for ao FISL este ano,
pague uma cerveja (ou suco!) a ele, porque ele merece.
Também queria agradecer ao pessoal que foi ao evento. É sempre bom ver
gente que se preocupa de verdade em melhorar algo, que não fecha os
olhos para os problemas que estão acontecendo, e principalmente que se
dispõe a aprender algo novo. Foi gratificante ter conhecido pessoas como
o Germán, um astrofísico argentino que mantém dois pacotes em Python no
Fedora sem querer nada em troca! Ou tipo o Hugo Cisneiros, envolvido no
mundo GNU/Linux há tanto tempo quanto aquele cabelo dele levou pra
crescer :-P.